Jesus ressuscitado era para os primeiros cristãos o Bom Pastor (cf. Jo 10,14). Sentiam-no como Alguém presente que os acompanhava, os protegia e os cuidava das investidas do anticristo. Os hebreus viam em Deus o verdadeiro pastor que guia o povo. Moisés, por exemplo, recebera de Deus a incumbência de pastorear o povo de Deus. Para os primeiros cristãos, Jesus era o pastor por excelência que conduzia o povo à vida e à Vida plena: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (cf. Jo 10,10).
Pergunta-se: quem e/ou o que exerce a maior influência nas minhas decisões, hoje? Quem faz a minha cabeça? Quem encarna a figura do Bom Pastor, hoje? Questões dificílimas! O vozerio confuso, a disputa encarniçada por narrativas, a indústria da fake news e a banalização de quase tudo torna o cenário turvo e triste. É preciso, mais do que nunca, que aprendamos a exercitar o discernimento porque via de regra os lobos se apresentam como cordeiros, os demônios se apresentam como santos e os mercenários se apresentam como "pessoas de bem" aparentando serem “homens de Deus”, mas são corruptos, farsantes e traidores. Que fazer? Em quem acreditar?!
Pastor são os nossos amigos, nossos pais, lideranças, catequistas, autoridades, etc.; em suma, bom pastor é quem advoga a nosso favor quando somos injustiçados e nos defende quando corremos perigo de vida.
O mercenário lava as mãos ao modo de Pilatos, mas o bom pastor é aquele que caminha a frente dando o exemplo e percorrendo-o antes de nós.
Bom pastor é quem busca conhecer a alma, o coração e a história de vida das ovelhas, antes de julgá-las
Bom pastor é quem tem a coragem de repreender quando necessário e não abandona quando a ovelhinha se atreve a andar por outras paragens.
Bom pastor é quem crê na gente e naquilo que podemos ser, e sabe compreender as nossas escolhas.
Bom pastor é quem mesmo não podendo fazer mais nada, continua sendo amigo.
Bom pastor é quem vê e reconhece a beleza e as qualidades do outro, e o ajuda a enxergá-las mesmo quando tudo parece ficar embotado por causa das cegueiras e/ou crises que, às vezes, nos surpreendem no percurso que estamos realizando.
Bom pastor é quem sabe dizer "sim" e sabe dizer "não" na hora certa;
Bom pastor é quem é capaz de renunciar aos próprios desejos e caprichos para dar espaço para que o outro cresça e apareça.
Bom pastor é quem não se decepciona com as escolhas do outro/a nem se espanta com as diferenças e idiossincrasias pessoais.
Bom pastor é quem conduz o outro para lugares mais seguros e quem abre novas portas (novas pastagens e novas perspectivas de vida).
Bom pastor é quem não mantém o rebanho na base da ameaça, da submissão e da enganação.
Bom pastor é aquela pessoa que ama, escuta com simpatia e afeição os “reclames” do outro e está sempre pronto para dar a vida se for necessário.
Bom pastor é “aquele que anda corretamente, que pratica a justiça e fala o que é verdade, que recusa o lucro desonesto, cuja mão não aceita suborno ou qualquer exploração, que tapa os ouvidos para não ouvir falar de planos e tramas de homicídios, e fecha os olhos a fim de não contemplar o mal” (cf. Is 33,15).
Bom pastor é a pessoa livre e despojada das ambições mundanas, é alguém que não está aferrado ao poder nem deseja a todo custo fazer sucessor.
O bom pastor se notabiliza pela prática da compaixão e pela prática da solidariedade com os empobrecidos e mais vulneráveis, é alguém que anuncia o Reino com a própria vida.
Enfim, Bom pastor é quem ama e cuida com coração de mãe, com o coração de Deus.
Quanto aos outros “pastores”... são todos sacripantas, lobos perigosos e inimigos da vida.
“Não basta alguém se dizer religioso, até frequentando alguma religião, mas sem compromisso com a verdade, a justiça e a prática do amor ao semelhante. Usar a religião para angariar votos e exercer funções de liderança, mas traindo as pessoas e as comunidades na prática de sua liderança social é agir como mercenário” (Dom José A. Moura).
